Minha querida esposa,
Escrevo-lhe estas palavras sem saber se elas chegarão até você algum dia, ou se estarei vivo quando você as ler. Ao longo da minha luta pela independência do nosso país, nunca duvidei da vitória da nossa causa sagrada, à qual eu e os meus camaradas dedicamos toda a nossa vida. Mas a única coisa que queríamos para o nosso país era o direito a uma vida digna, à dignidade sem pretensões, à independência sem restrições.
Isso nunca foi o desejo dos colonialistas belgas e de seus aliados ocidentais, que receberam, direta ou indiretamente, abertamente ou dissimuladamente, o apoio de alguns altos funcionários das Nações Unidas, o órgão no qual depositamos toda a nossa esperança quando lhe pedimos ajuda.
Eles seduziram alguns de nossos compatriotas, compraram outros e fizeram de tudo para distorcer a verdade e manchar nossa independência. O que posso dizer é que isto — vivo ou morto, livre ou preso — não é uma questão pessoal minha. O essencial é o Congo, o nosso povo infeliz, cuja independência é pisoteada. É por isso que nos prenderam e nos afastaram do povo. Mas a minha fé permanece indestrutível.
Sei e sinto no fundo do meu coração que, mais cedo ou mais tarde, o meu povo se livrará de todos os seus inimigos internos e externos, que se levantará como um só homem para dizer não ao capitalismo degradante e vergonhoso e para recuperar a sua dignidade sob um sol puro.
Não estamos sozinhos. A África, a Ásia e os povos livres de todos os cantos do mundo estarão sempre ao lado de milhões de congoleses que só abandonarão a luta no dia em que não houver mais colonizadores e seus mercenários em nosso país.
Aos meus filhos que deixo para trás, e que talvez eu não volte a ver, quero que se diga que o futuro do Congo é belo e que espera deles, como espera de cada congolês, que cumpram a tarefa sagrada de reconstruir a nossa independência e a nossa soberania, pois sem dignidade não há liberdade, sem justiça não há dignidade e sem independência não há homens livres.